domingo, 26 de abril de 2015

Intervenção BE - Comemorações do 25 de Abril de 2015

Estamos aqui reunidos em mais uma comemoração de aniversário da revolução dos cravos, fica muito bem, chegada a esta data escrever meia dúzia de palavras, sobre este grande e sempre renovado acontecimento, que sabe sempre a repetição adorada por uns e cheia de angústia por outros.
Ganhou apenas discursos de circunstância, manifestações hipócritas, votos de futuromelhor, desejos de eliminar discriminações, desigualdades e injustiças.
Passado este dia, os famintos de pão, de trabalho, de habitação de educação de calor humano e de conforto social, regressam até aos festejos do ano seguinte.
No entanto hoje esta data significa para mim, e para uma grande maioria dos portugueses, um marco ímpar, da nossa quase milenar história colectiva como estado soberano, por isso eu estou aqui para reconhecer, as gerações que nos deram a liberdade, aqueles que sentiram sempre que merecíamos viver num pais livre, aqueles por cujos valores e ideais lutaram e corajosamente arriscaram a sua vida, para que se conseguisse, obter aquilo que todos hoje temos (Liberdade) e com ela a democracia o bem mais precioso de uma sociedade.
E para que a memória não se esbata, entendo que a história e as suas consequências nos impõe um dever de os lembrar.
E de todas as pessoas que contribuíram para esta necessidade de mudança, quero aqui destacar o povo, homens e mulheres que nos deixaram um testemunho de quem sofreu a ditadura do antigo regime e que fazem parte desta massa virtuosa, que fez e faz Portugal, porque foi desse povo sofrido e espoliado, que saíram os nossos maiores heróis, e aqui quero recordar particularmente um desses heróis por quem tenho uma grande admiração e que esteve na primeira linha do 25 Abril de 1974, o capitão Salgueiro Maia, filho de uma família de ferroviários, a que igualmente pertenço e com quem tive o privilégio de privar de perto, conhecimento esse que deixou em mim indeléveis marcas na minha consciência cívica, nas minhas opções politicas, na pessoa que hoje sou.
De referir que Salgueiro Maia nunca abdicou da sua consciência de classe: porque nunca esqueceu que era ao povo que pertencia e era ai que devia manter o seu compromisso e também nesse sentido, este herói de Abril nunca quis subir aos palanques do poder. É também nesse povo que eu me revejo e é no capitão Salgueiro Maia, que se conciliam as grandes referências éticas e morais que o 25 Abril de 74, representa na sua essência (vale a pena conhecer a sua biografia e aqui constatar o reflexo da pureza dos ideais de Abril.
Olhar para a realidade actual do nosso país, passado quatro décadas após o 25 Abril eis o que já nos aconteceu: Uma crise económica que alastra em todas as áreas do nosso viver colectivo, houve três intervenções do FMI, problemas sociais que nos envergonham, famílias no desemprego, alastramento da pobreza e das desigualdades, crianças privadas de condições de vida dignas, fuga de mão de obra
jovem qualificada, para uma emigração em massa, como aconteceu nos anos 60, porque o futuro no país lhes é negado, reformas de miséria para quem trabalhou toda a vida, flexibilização das leis laborais, que atiram para o desemprego mais de um milhão Portugueses e para o salário mínimo nacional mais de dois milhões, liquidação do estado social de face bem visível, nos sectores da saúde e da educação, com efeitos demolidores no degradar das condições de vida das populações, uma justiça para ricos outra para pobres, uma politica de clientelismo, jogos de influências e mordomias obscenas nos mais altos patamares do poder politico instituído, enriquecimento ilícito, descrédito dos políticos, porque nos sucessivos escândalos que tem acontecido, vêm sempre no topo da pirâmide, é esta a realidade do nosso pais.
Vivemos numa democracia mutilada, pois temos a liberdade de expressão mas o medo de represálias instala-se entre os trabalhadores de contratos precários, face aos atropelos dos seus direitos por parte do capital e querem o seu contrato renovado, ou porque podem pagar com a sua carreira profissional ou com emprego para os filhos a sua ideologia politica.
Por tudo isto a euforia dos portugueses, com a revolução de Abril, está transformada numa desilusão total, pois caminhamos para um cenário semelhante ao que se vivia antes do 25 Abril de 1974, uma revolução social é precisa, pois há muitos exemplos, que Abril não se está a cumprir.
Tenho a certeza que a maioria dos portugueses deseja, que das próximas eleições saia um governo, que combata de forma vigorosa as desigualdades e a pobreza, que promova a educação e o pleno direito de acesso á saúde, que combata os poderes ilegítimos a corrupção, que promova o emprego e a dignidade no trabalho, que cumpram as promessas eleitorais, e que permita, enfim a todos os portugueses e portuguesas, uma vida decente, numa sociedade democrática. Vamos eleger esse governo.
Termino com as palavras proferidas, pelo capitão Salgueiro Maia, que de forma serena mas firme, quando há 1,30h do dia 25 Abril de 1974, mandou formar em parada as tropas da EPC de Santarém, antes de partir para Lisboa:
Há diversas modalidades de estados: os liberais, os sociais-democratas, os socialistas, os corporativos, mas nenhum pior do que o estado a que chegamos, pelo que urge acabar com ele, de maneira que quem é voluntário e quiser vir comigo para Lisboa e acabamos com isto, sai e forma; quem não quiser vir, não é obrigado e fica. Há alturas em que é preciso desobedecer. (Cap. Abril. Cit. Pág.87)
Todos quiseram partir, mas por motivos operacionais, só 250 podiam formar a coluna militar, ás ordens do jovem capitão e avançarem sobre a ditadura, que culminou com a rendição e queda do regime.
Viva a Democracia!
Viva Portugal!
25 Abril Sempre 


José Ventura – Bancada do Bloco Esquerda
Assembleia Municipal Condeixa – a Nova